terça-feira, 7 de abril de 2009

ANOS 80 - SAUDADES E RELEITURAS



Os anos 80 serão eternamente lembrados pelos exageros e ostentações, pela busca de status e poder. Essas manifestações estavam em todos os lugares: nos seriados da TV, na economia, no comportamento da juventude. A moda apressou-se por responder a esses desejos, criando um estilo nada simplório. As roupas eram um exagero só: nas proporções, nos brilhos, nos detalhes. Num afã em ostentar, todas as roupas de marcas conhecidas tinham seus logos estampados no maior tamanho possível, com preços proporcionais. O jeans alcança status de peça tem que ter da época. E os shoppings tornaran-se paraíso dos consumistas. Ser bem-sucedido, bem-vestido, ter um corpo bonito e saudável era essencial para o sucesso.

A História costuma ser uma rica fonte de inspiração para a moda. Muitas coleções reinventaram roupas e cortes do passado, restaurando estilos, recuperando tradições. Hoje, vemos a moda se debruçar sobre sua própria história, recriando tendências de um passado bem recente.

A releitura de antigos clichês, a exploração das ambiguidades, a reflexão sobre conceitos como bom gosto e mau gosto, assim como a mistura de tendências a partir dos anos 80, provaram que todos os limites são relativos e que a moda não é mais que a projeção de nossos sonhos, idéias e aspirações, e que, afinal, tudo é mesmo possível no mundo da criação.
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Um pouco de moda, de estilo, de tendências e muuuuuitas saudades!!!

Esses anos 80 deram mesmo o que falar... De tudo um pouco se via e havia espaço para todo mundo: yuppies, punks, rebeldes, paz e amor, mocinhas e bandidos. O céu e o inferno, o dia e a noite.


Fazíamos aeróbica com faixa na cintura, usávamos ombreiras nas roupas e new wave no cabelo com franja repicada, tínhamos tênis Redley duas cores, sapato Cândida Andrade, mochila e agenda da Company, usávamos Yes Brasil, Zoomp, Forum, Bee, Divina Decadência, Fiorucci, Wagon; gravávamos músicas do LP para a fita cassete Basf 60 ou 90 minutos, dançávamos ao som da Blitz, Grafite (Ma ma ma ma ma maria), Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Barão Vermelho, Biquini Cavadão, Capital Inicial, Heróis da Resistência, Nenhum de Nós, Ultraje a Rigor, Engenheiros do Hawai, João Penca e os Miquinhos Amestrados, Titãs, RPM, Dr.Silvana e cia, Marina, Eduardo Dusek, Kiko Zambianqui, Léo Jaime, Lobão e os Ronaldos, Hanoi-Hanoi, Lulu Santos, U2, The Police, Men at Work, Dire Straits, A-Ha, Madonna, Cindy Lauper, Queen, Supertramp, Erasure, George Michael, Toto, etc; Cazuza anunciava que havia se infectado com o vírus da Aids e Madonna escandalizava o mundo com seus shows.







Rendas, babados, couro, sobreposições, meias finas estampadas, desenhadas ou rendadas, tachas, correntes, tule, balonês, godês, calças baggy, clochard, cintura alta marcada com cintões... era mesmo a década da descoberta, do exagero, das cores, da criatividade, da inventividade. E, como já sabemos, tudo o que é verdadeiramente bom permanece e recria-se em si mesmo, se reinventa, renasce em novas formas, abre espaço para o novo dentro do "velho", cria suas próprias oportunidades de se lançar em novas ondas, ainda que seja no mesmo mar. Não é a toa que a grife mais trend, mais fashion, mais desejada e mais adorada no mundo inteiro reinventou o que está na veia desses anos 2000 e poucos: a década de 80. De um lado uma foto da Madonna em pleno lançamento de "Like a virgin" (1984) e de outro, a Louis Vuitton em seu lançamento da coleção 2009. Puro luxo!!! Demais!!!
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Ahhh... esses anos 80 foram um marco na história, um divisor de águas no segmento da moda, da indústria têxtil, da indústria fonográfica... que delícia viver os 80!!! Tudo tinha o sabor do grande, do exuberante, das cores fortes, do couro, do vinil, das ombreiras, do rock 'n roll, do espírito esportivo, do culto (ainda não desmedido) ao corpo... tudo completamente hipnotizante e apaixonante. E tudo é mesmo verdade, mas os looks acima são, nada mais, nada menos que desfiles da Semana de Moda Outono-Inverno/2009-2010 de Paris, respectivamente, Chanel, E.Ungaro e Hermès.
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Tailleurs - que magnífico presente e herança nos deixou Mademoiselle Chanel - são lindos, são elegantérrimos, são sinôminos do vestir bem e são, consequentemente, atemporais. Tanto assim que podemos ver nas imagens em preto e branco dois modelos da Primavera-Verão/83 de Balmain e nas duas outras imagens dois modelos Prada, mais uma vez, no desfile da Semana de Moda Outono-Inverno/2009-2010 de Paris. Todos absolutamente deslumbrantes!!!
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Esse poderia ser uma editorial belíssimo da Vogue nos lançamentos das coleções Outono-Inverno/2009. As jaquetas de couro tem uma modelagem linda, as várias correntes usadas sobrepostas ao cinto ficaram perfeitas, a meia calça fina contrastando com as longas e amplas saias, as botas na base da panturilha... tudo perfeito!!! Se não fosse por apenas um detalhe: o editorial é da Vogue, mas de 1986. Maravilhoso mesmo assim!!!
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Um autêntico desfile street wear, febre dessa década de 80, tão propagadora de altas temperaturas? O exagero parece não negar. A mistura de cores, tecidos e modelagens também são os pontos fortes, a legging (antiga fuseau repaginada) aparece como peça curinga. Mas, aqui as aparências enganam, principalmente para as mais desavisadas e desconectadas. O desfile foi sim uma referência ao street wear da década de 80, mas quem o colocou na passarela foi a Amapô, na SPFW/2009. Haja vontade de ativar a memória, não?

Bem, aqui algumas dicas preciosas: por favor meninas, bom senso e água benta nunca fizeram mal a ninguém, ok? Estar "na moda", ser uma trend setter ou ser considerada um ícone de elegância passa a léguas de distância de ter o closet abarrotado com centenas de peças das coleções das mais badaladas grifes, principalmente em tempos como os atuais, onde o que é conceitual e verdadeiramente elegante é o oposto da ostentação e do consumismo sem limites. Ser uma verdadeira trend setter é unir o bom senso, o bom gosto, o estilo pessoal a algo que se possa dizer sobre sua personalidade, conferindo-lhe uma marca única e atemporal, que é exatamente o oposto de parecer "produtos fabricados em série", sem originalidade e expressão. Seguir de modo paranóide a moda, ser escravo dela e parecer uma manequim de vitrine adotando o consumismo exacerbado como modo de vida, além de cafonérrimo, está, na atualidade, completamente out. Não queiram ser chamadas de alienadas, burras e "dondocas empirocadas da cabeça", pois, atualmente, esse estilo de vida está sendo visto como uma das muitas espécies de "compulsão", que teria suas prováveis causas em uma grande insegurança pessoal e/ou social e em uma - não menos preocupante - inadequação com a própria imagem - com a auto-estima e com a auto valorização (e ninguém quer ser visto assim, não é mesmo?). Além de ser considerado desatualizado, deselegante, demonstrar falta total de inteligência - o que é imperdoável para uma verdadeira trend setter - demonstra falta de conexão com a contemporaneidade, falta de bom senso e de personalidade. Se liguem.
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Já aqui, a Madonna de novo, no autêntico estilo yuppie-punk da época, com seu look monocromático, calças baggy, cintura alta marcada com um cinto, muitas correntes e pulseiras. O estilo foi rebatizado de total black e as calças passaram a se chamar cenouras ou carrot pants. Tirando o pavorosíssimo laçarote no cabelo (que naqueles tempos eram altamente fashion) e o cabelo inconfundível dos anos 80; se não soubéssemos de quem se tratava a foto, ela poderia estar saltitando nas mais badaladas revistas de moda da atualidade. Mil vivas... pois eu, juntamente com mais uma porção de milhares de pessoas lindas, inteligentes, elegantes (a volta dos anos 80 é mais uma prova disso), desencanadas, leves e felizes fizemos parte de uma das épocas mais bacana da história, em todos os segmentos (que me desculpem as outras gerações - as de antes e as de depois - mas ter vivido os anos 80 é fundamental).
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Parece um look total andrógino autêntico dos anos 80, não? Essa jaquetona com ombreiras enoooormes, essa cintura alta marcada com cinto (lembrei-me também da clochard - que em francês significa mendigo, vadio e foi inspirada nas roupas dos palhaços - também está super trend) e o cabelo a la new wave. Pois é... mas esse editorial com a belíssima Milla Jovovich está na Vogue Francesa/Novembro de 2008.
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E, por fim, mas não menos deliciosamente saudoso, a série Beverly Hills 90210 - o número no título se refere ao Código Postal - (ou Barrados no Baile, nome dado ao seriado no Brasil). A série estreiou no final de 1990 pela Fox e expressava também, a exemplo de outros segmentos, o comportamento jovem na virada dos anos 80 para os 90. O estilo que prevalecia ainda era guiado pelo grande chacoalhar promovido durante toda a década de 80. Reparem na modelagem ampla do casaco - chamava-se blazer - (rebatizado atualmente de paletó oversize ou boyfriend) da Jennie Garth (a Kelly Taylor), usado sobre saia e meias finas pretas (poderia ser um vestido também). O look da Shannen Doherty (a Brenda Walsh) também está atualíssimo, num total black tal qual as tendências saídas do forno das coleções Outono-Inverno/2009. O casaqueto da Gabrielle Carteris (a Andrea Zuckerman) também é peça chave desse Outono-Inverno com modelagem mais ampla e ombros estruturados ou com ombreiras, se preferirem.

Enfim, a vedete da vez é, mais uma vez, a década de 80. Com muito bom humor, mas também e, principalmente, com muito bom senso e bom gosto, por favor. Vamos nos permitir revisitar essa época tão rica, tão fascinante e tão atual que foi a década de 80, que de "década perdida" como rotulavam alguns "grandes pensadores" da época, não conseguiu se perder nem sequer no tempo.

Um brinde!!!

P.S.: Todas as imagens contidas nesse texto foram retiradas de sites públicos dos editoriais de moda e sites públicos com referências aos anos 80.